segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Pode consertar a minha vida?


Pode consertar a minha vida?

Por Kenneth Schmitt

Tradução a 18 de agosto de 2025


A garagem cheirava a óleo, borracha e aço queimado pelo sol. A poeira rodopiava no ar pesado do verão, captada pelos raios de luz que entravam obliquamente pelas portas de sacada entreabertas. O local estava arrumado à sua maneira, com ferramentas penduradas com precisão militar em painéis perfurados, cada uma brilhando como se estivesse pronta para a batalha. Algures lá fora, as cigarras zumbiam sem parar, o seu coro fundindo-se com o tiquetaque de um motor a arrefecer.

Claire hesitou logo após a porta, uma das mãos agarrando a alça da bolsa como se ela pudesse ancorar-se naquele lugar desconhecido. Ela não estava habituada a oficinas. Tinha uma oficina em que confiava, mas estavam lotados, e o seu vizinho tinha sugerido esta. Ele é bom, muito bom, dissera o vizinho, mas não se admire se ele lhe disser coisas que não lhe pediu.

Agora ela compreendia.

Ethan Cross não era como nenhum mecânico que ela já conhecera. Ele estava parado diante do sedan dela como se estivesse vivo, a ouvir. A sua mão pousou ligeiramente no guarda-lamas, os olhos semicerrados, a cabeça inclinada. Parecia menos um mecânico e mais alguém a ler o pulso.

Claire mexeu-se, inquieta. "Então... o que é que ele tem?"

Ethan abriu os olhos, estudando o carro uma última vez antes de a encarar. "O seu carro não está avariado", disse. A sua voz era calma, sem pressas, com uma certeza que a deixou na defensiva. "Só está preso. Muito atrito onde não devia." Depois, com um sorriso amarelo: "Acontece com máquinas. Acontece também com pessoas."

Claire franziu o sobrolho. "Não vim aqui atrás de uma metáfora. Só preciso que funcione. Tenho trabalho amanhã de manhã."

Ele limitou-se a assentir, como se a impaciência dela não o afetasse. Pegando numa chave inglesa, Ethan inclinou-se para dentro do compartimento do motor. Os seus movimentos eram eficientes, mas estranhamente graciosos. Ajustou uma mangueira aqui, apertou um parafuso ali, ouvindo cada ajuste como se esperasse a resposta do carro. Cantarolava baixinho, uma melodia grave que parecia acalmar o ar à sua volta.

Claire tentou distrair-se examinando a garagem. Tudo estava em ordem. Um antigo calendário de carros clássicos pendurado sobre uma mesa, uma pilha de pneus ao canto, um banquinho de couro gasto. No entanto, a sua atenção continuava a voltar para ele. Havia algo de invulgar na sua calma, na forma como trabalhava, como se o próprio tempo se curvasse ao seu ritmo.

Finalmente, Ethan fechou o capot com um baque satisfatório. Rodou a chave e o motor roncou suavemente, sem o ruído. Ronronou como se estivesse à espera daquele momento.

"Ela está pronta para ir", disse Ethan, entregando-lhe as chaves. Depois, mais suavemente, com um peso que ela não conseguia explicar: "E tu também."

Claire pestanejou, assustada. Por momentos, pensou que tinha ouvido mal. Mas não, o seu olhar era firme, o tom, deliberado.

O calor subiu-lhe às bochechas. Murmurou um "obrigada" apressado e saiu rapidamente, os saltos batendo bruscamente no betão. Ela não olhou para trás.

No entanto, enquanto conduzia para longe, com o motor a zumbir debaixo dela, percebeu que se sentia... diferente. Não só aliviada por o carro estar reparado, mas também profundamente perturbada. As palavras de Ethan colaram-se-lhe como a humidade lá fora: Tu também.

A tarde estava sufocante alguns dias depois, quando o carro de Claire tremeu na estrada, com o vapor a subir em espirais do capô. Ela praguejou, levou-o para a berma e sentou-se agarrada ao volante, o suor a colar-se à blusa. Ela não lhe queria ligar, mas sabia que tinha de o fazer.

Meia hora depois, o carro voltou a coxear para a garagem de Ethan. Saiu da parte de trás, limpando as mãos ao pano de cozinha, calmo como sempre.

"Já voltou?", perguntou. Sem troça, apenas um divertimento silencioso.

Claire bateu com força a porta, a frustração transbordando. "Superaqueceu. O que quer que tenha feito da última vez não resolveu."

Ethan inclinou a cabeça, examinando o carro com uma segurança silenciosa. "A peça que ajustei aguentou bem. Mas o nível do líquido de refrigeração está muito baixo. Completou como sugeri?"

Ela hesitou. Lembrava-se das palavras dele, mas não se dera ao trabalho. "Não. Normalmente não presto atenção a essas coisas."

Agachou-se perto do radiador, testando-o delicadamente. "Onde colocamos a nossa atenção determina quanto tempo duram as coisas. Carros. Corações. Vidas." Ele olhou para ela. "Ignore o que interessa, e o motor seca."

Ela revirou os olhos, cruzando os braços. "Não vim aqui para uma das suas aulas."

"Entendido", disse Ethan. Encheu o líquido de refrigeração com um movimento constante. Mas, enquanto trabalhava, a sua voz continuou, baixa, mas clara. “A cada momento, escolhemos para onde vai a nossa energia. O medo e a negligência drenam-na. O amor e o carinho reabastecem-na. O mesmo acontece com um radiador. Negligencie-o, e ele evapora. Cuide dele, e ele faz o que foi concebido para fazer.”

Claire apertou os lábios. Ela queria dispensá-lo, mas as palavras dele fixaram-se no seu peito como brasas, impossíveis de ignorar.

Quando fechou o capô, gesticulou. “Experimente.”

O motor ligou suavemente. O painel manteve-se estável. O alívio invadiu-a, embora não quisesse admitir em voz alta.

Ao assinar a fatura, ela cruzou o olhar com ele. “Acredita mesmo nisso tudo? Sobre energia e amor?”

"Eu não acredito apenas", disse Ethan baixinho. "Eu vivo isso."

Os seus dedos roçaram os dele enquanto ela devolvia a caneta, e o contacto durou mais tempo do que deveria. Claire saiu em silêncio, mas os seus pensamentos não se aquietavam. Ele tinha-lhe arranjado o carro novamente, mas porque é que ela sentia que ele também estava a reparar outra coisa?

Uma semana depois, o seu carro não precisava de nada — mas Claire deu por si a entrar na oficina mesmo assim. Disse a si mesma que estava na hora de mudar o óleo. Na verdade, ela só o queria ver.

Ethan estava curvado sobre uma carrinha de caixa aberta, as mangas arregaçadas, a gordura espalhada pelos braços. Quando olhou para cima, sorriu como se estivesse à espera dela.

"De volta?"

"Troca de óleo", disse ela rapidamente, demasiado depressa.

Guiou o carro dela para dentro do lugar e deslizou por baixo dele com uma facilidade praticada. O silêncio era denso, quebrado apenas pelo tilintar das suas ferramentas. Claire mexeu-se e finalmente falou.

"Fala sempre assim?"

"Como o quê?" A sua voz veio abafada debaixo do carro.

"Como se estivesse a reparar as pessoas enquanto repara os carros delas."

Riu baixinho, saindo com uma chave inglesa na mão. "Não tento. Apenas escuto. As máquinas transportam ecos dos seus donos. O seu esforço diz-me mais do que a quilometragem."

Ela hesitou. "Então... o que é que a minha diz?"

O Ethan estudou-a. O seu olhar era firme, mas não invasivo. "Que está a aquecer há muito tempo. A carregar mais peso do que admite. Mas, por baixo disso, é forte."

A sua garganta se apertou. "Você não me conhece."

"Não", admitiu gentilmente. "Mas eu sei como é quando alguém se esquece para onde vai a sua energia."

Claire desviou o olhar, piscando os olhos com força. Ela não esperava que uma visita à oficina fosse uma confissão.

Quando a mudança de óleo terminou, entregou-lhe o recibo. Os seus dedos tocaram-se novamente — deliberadamente desta vez. Claire olhou-o e, durante um longo momento, nenhum dos dois desviou o olhar.

Ao regressar a casa, ela sabia que não tinha vindo para mudar o óleo. Ela tinha vindo por ele.

Numa noite escura e vazia, os faróis de Claire piscaram, crepitaram e apagaram-se. A escuridão engoliu a estrada. O coração batia-lhe forte de pânico e, sem pensar, ligou a Ethan.

"Fique onde está", disse. "Eu vou."

Vinte minutos depois, a sua carrinha apareceu, os faróis a brilhar no vazio. O alívio inundou-lhe o peito.

Trabalhava em silêncio, o feixe da lanterna dançando pelo capô. "Fusível queimado", murmurou. "Reparação simples."

Claire cruzou os braços contra o ar da noite. "Porque é que o meu carro continua a avariar quando..." Ela conteve-se. "Quando preciso de ti."

Ethan olhou para cima, com um sorriso amarelo. "As quebras nem sempre significam que algo está errado. Por vezes, lembram-nos de parar. De deixar alguém ajudar."

A sua respiração ficou presa. "E hoje à noite?", sussurrou ela. "Qual é o lembrete?"

Fechou o capô, encontrando o olhar dela. «Não diminua a sua própria luz. Acreditou nos seus limites durante tanto tempo que se esqueceu do seu poder. A escuridão não é real — é apenas aquilo que aceitou ver.»

As palavras dele atingiram-na com mais força do que a falha dos faróis. Por um momento, sentiu como se ele lhe tivesse falado diretamente à alma.

Quando as luzes voltaram a ganhar vida, ela jurou que algo dentro de si também tinha sido reacendido.

Ethan permaneceu perto da porta. "Os motores podem ser reconstruídos. As pessoas também. Mas só se decidirem que valem a pena."

A garganta de Claire apertou-se. Ela assentiu, incapaz de falar.

Semanas depois, o seu carro estava a funcionar perfeitamente quando ela entrou na garagem. Ela não estava ali para um arranjo.

Ethan estava a limpar uma chave inglesa quando a viu. "Sem chocalhos, sem fumo, sem problemas?"

Claire esboçou um leve sorriso. "Não há problema. Só vim agradecer."

"Por reparar o seu carro?"

"Por mais do que cuidar do meu carro". Ela hesitou, mas depois deixou as palavras fluírem. "Fizeste-me ver as coisas de forma diferente. Sobre mim mesma. Sobre como tenho vivido."

Ethan encostou-se ao banco, quieto como sempre. "O carro era apenas a porta. Passaste por ela."

O seu peito apertou. Não sabia como lhe chamar — mecânico, filósofo ou algo completamente diferente, mas sabia que ele tinha deixado uma marca.

Quando ela partiu, a luz do sol espalhou-se pela estrada. O seu motor parecia firme e seguro, mas o que importava era o conhecimento silencioso que agora fluía do seu interior.

Kenneth Schmitt

 
 

 
Traduzido por  http://achama.biz.ly  com agradecimentos a: 
 * Ocasionalmente a censura das trevas apaga-me alguns artigos. (google dona do blogspot)


Notas minhas:
  • Deus, a Fonte da vida é puro amor incondicional, não um deus zeloso [de algumas] das religiões dogmáticas.
  • Todos os artigos são da responsabilidade dos respectivos autores.

O Google apagou meus antigos blogs rayviolet.blogspot.com e
rayviolet2.blogspot.com, sem aviso prévio e apenas 10 horas depois de eu postar o relatório de Benjamin Fulford de 6 de fevereiro de 2023, acusando-me de publicar pornografia infantil.
(Uma Grande Mentira)

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